sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Devaneios empíricos sobre o futebol e suas vertentes supostamente filosóficas (D.E.S.F.S.V.S.F.) – A pré-temporada


“O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso.”


Bill Shankly


Quem acompanha o futebol sabe: o período que vai do fim da última rodada do campeonato nacional até a primeira partida do torneio estadual, tempo que varia entre cinco ou seis semanas, é considerado nebuloso.

Sim, sem exageros. Milhares de famílias transformam-se em um verdadeiro caos. A falta de partidas oficiais sendo disputadas faz com que uma grande quantidade de brasileiros entrem em estado de depressão futebolística. Pesquisas (empíricas, que fique bem claro) indicam que os consultórios de psicanálise tem um aumento expressivo no número de pacientes nesta época, todos reclamando do mesmo mal:

-Sei lá... Começou como um incômodo esquisito, um aperto no peito. Achei que poderia ser um negócio mais simples, como um principio de enfarte, mas não era. Era um mal sentimental, algo que vinha de dentro e que aos poucos foi aumentando. Uma angústia, uma falta de perspectiva.

-Fale-me mais sobre isso.

-Eu não sei explicar. Desde o começo de dezembro, a comida não tem mais sabor, a conversa no bar com os amigos é monótona... Mal consigo prestar atenção no que minha esposa e meus filhos dizem! Mas é só eu ver uma bola que me animo. Um arrepio me sobe pela a espinha. Pareço um cachorro quando vê um osso. É humilhante. Me ajude, doutor!

Uma das formas infalíveis de descobrir a carência futebolística de fim/início de ano é através do Teste de Rorschach. Se o paciente relatar que está enxergando coisas como “gramado”, “caneleira”, “Pelé”, “bandeirinha”, "gândula", "Galvão Bueno", “seleção de 82”, entre outras imagens do gênero, é praticamente certo que ele seja diagnosticado com a “Síndrome da Pré-Temporada”. O tratamento é feito geralmente a partir de vídeo tapes com compactos das principais partidas do último campeonato ou de recortes de jornais e links da Internet com informações recentes sobre especulações de contratações dos grandes clubes do país. Também recomendam-se visitas a campos de peladas na condição de espectador. Participar do jogo não é aconselhado, pois segundo pesquisas, o acúmulo de emoções e da frustração de pré-início de temporada pode gerar ações extremas, como crises de choro e ameaças ao juiz.

-Seu imbecil cretino!

-Qual é a tua Milton? O jogo já acabou... Pare de me encher!

-Admita que estava mal intencionado, canalha! Três pênaltis. Três! Ladrão!

-Mas vocês ganharam de 15 x 2! Pra que reclamar?!

-Pois podia ter sido 18!

-Ei... Peraí! Você tá chorando, Milton?

-Não é justo, não é justo...

Dizem que o Ministério da Saúde já está estudando alternativas para solucionar o problema em parceria com o Ministério dos Esportes. Especula-se que uma das propostas é alongar a duração dos campeonatos para que eles preencham este período de inatividade. Associações de jogadores reclamam que a medida é infundada, e que os atletas perderão seu período de descanso. Mas fontes do Palácio da Alvorada já garantem a idéia tem o aval do presidente que teria dito que “o importante é ver o Corinthians jogar”.

Pelo visto, a discussão vai longe.