segunda-feira, 11 de julho de 2011

Teoria do caos

Exercício de compreensão do mundo. Imagine dois indivíduos quaisquer, ambos com pontos de vista diferentes. Os assuntos de que discordam são totalmente irrelevantes. Eles podem estar falando sobre absolutamente qualquer tema, seja algo ligado à política, religião, economia, relações internacionais ou sobre a simetria dos peitos de uma personalidade famosa qualquer clicada recentemente por alguma revista masculina, não importa. O relevante mesmo é saber que ambos têm opiniões divergentes sobre o mesmo assunto.

Para facilitar o entendimento do diálogo, vamos diferenciar os sujeitos como “Fulano” e “Beltrano”, muito embora, na prática, eles possam ser substituídos por qualquer ser humano dito comum, tal como eu ou você.

-Eu discordo da sua opinião. – Diz o Fulano, exaltado.

-Sério? Bem... É um direito seu. – Responde, calmamente, o Beltrano.

-Você está errado.

-Respeito seu ponto de vista.

-Você não devia pensar desta maneira. É errado.

-Isso você já disse.

-Então mude de opinião.

-Não dá. Não posso ir contra o que eu acredito. Mas posso debater o assunto, e, se for convencido por meio de bons argumentos, posso mudar de opinião. Nada me impede.

-Mas você está errado. Tem que mudar.

-Não necessariamente. Podemos viver tendo pontos de vista diferentes, não há problema.

-Claro que tem problema.

-E qual é o problema?

-O problema é que você está errado.

-Por quê?

-Porque está, ué.

-Sim, mas quais são seus argumentos para afirmar isso?

-Não preciso de argumentos. O que é certo é certo.

-Mas quem disse que você está certo?

-Todos dizem que eu estou certo.

-Não é bem assim. Há muita gente por aí que concorda comigo.

-Mas eles não contam.

-Por que não?

-Porque eles estão errados.

-Ora... Isso é ridículo.

-É claro que não é.

-Cara, vem cá... Eu não estou pedindo pra você mudar de opinião. Sério. Acho válido e saudável existirem pessoas por aí que tenham pontos de vista diferentes, independentemente do assunto. O debate, o confronto crítico e racional de ideias, é um processo saudável. Eu não preciso concordar com você, e nem você concordar comigo para que possamos viver em harmonia, respeitando um ao outro. Entende o que eu quero dizer?

-Creio que entendo, sim.

-E o que acha disso?

-Acho que você está errado, e que deve mudar de opinião.

-Ok, eu desisto.

-Previsível.

-Previsível? Por quê?

-Quem não tem argumentos, foge. Simples.

Triunfante, o “Fulano” deixa o “Beltrano” sozinho, enquanto ele aparentemente tenta entender ao certo a situação que acabou de presenciar, ou pegar qualquer objeto mais próximo para atirar na cabeça do infeliz a fim de amenizar sua raiva. O que for mais fácil.

O “Fulano” ainda desabafa em voz alta:

-E depois dizem que não entendem o porquê do mundo estar do jeito que está. Falta diálogo, gente. Será que ninguém percebe?