terça-feira, 10 de novembro de 2009

Musas

Colegas reunidos ao redor da ampla mesa do bar. Cervejas geladas aos montes, aperitivos variados nos pratos, e assuntos de todos os tipos sendo debatidos. Típico cenário de mais uma noite boêmia.

Na roda, o assunto da vez eram mulheres. Belas mulheres. Mulheres de ontem e de hoje, não importava: cada um devia citar sua musa, a mulher por quem perderiam a compostura na mesma hora, por quem largariam a família, por quem deixariam de ver o time de coração numa final de campeonato se ela assim quisesse.

-Mulheres bonitas eram as antigas.

-Não diga isso... As novas tem seu valor.

-Não é bem assim. Hoje em dia não há quem supere uma Brigitte Bardot, por exemplo.

-Linda!

-Disse tudo. Aquilo sim era mulher.

-Alguém lembra da Sophia Loren? A mais linda que eu já conheci...

-Que olhos meu Deus, que olhos.

-Você fala como se fossem só os olhos que chamassem a atenção nela... E o resto do corpo?

-Tem razão. Que corpo! Eram tempos escassos para os olhos. Os vestidos eram largos. Era difícil enxergar qualquer coisa além de pano. Mas ela tinha curvas tão generosas que dava pra ver todos os seus atributos... Em detalhes!

-E a boca, então?

-Divina! Não há mais mulheres hoje em dia com uma boca como aquela... Deus teve ter esgotado o estoque.

-Discordo! E a Angelina Jolie? Não existe mais boca do que aquilo. O dia que venderem bocas por aí, a dela vai estar na capa do catálogo.

-É verdade. Jolie é Jolie.

-Sei lá. Falta charme.

-E quem precisa de charme quando se tem um corpo daqueles?

-Aquilo é a luxúria em pessoa. Uma blasfêmia ambulante!

-Não sei explicar. Falta harmonia. Aliás, não só nela, mas em todas as mulheres de hoje em dia. Veja essas novas musas dos adolescentes... Como a... Sei lá... Megan Fox!

-Mulherão!

-Pois então: aquilo é só peito.

-Peito, bunda e vulgaridade.

-Vulgaridade?

-Sim. Repare: não tem uma cena de um filme em que ela apareça sem se insinuar. Mulher pra ser atraente não precisa disso.

-Precisar não precisa. Mas que ajuda, isso ajuda...

-Eu nunca precisei ver o útero da Brigitte Bardot pra achar ela linda.

-Pois é. Vendo assim, acho que você até tem razão.

-Mas vamos seguir em frente: quero outros exemplos.

-Julianne Moore.

-Lindíssima. Adoro ruivas.

- Já eu, sou fascinado pela Audrey Tatou.

-Tá de brincadeira, né? O que ela tem de especial? É uma mulher como outra qualquer.

-Sei lá... Gosto das francesas. Ela tem algo que me atrai.

-Eu acho feia.

-Deixa ele. Gosto não se discute.

-Francesa por francesa, fico com a Carla Bruni.

-Meu Deus... Aí sim! Ela é sensacional.

-Concordo. Além do mais, gosta de homens feios.

-Feios e poderosos. Não é a toa que está com o presidente da França.

-São todas assim. Suscetíveis ao poder.

-Digam o que disserem, acho que ainda não inventaram nada melhor que a Paz Vega.

-É verdade. Tinha me esquecido da Paz Vega.

-Me desculpe, mas mulher como aquela não se esquece. Tem sangue espanhol... Sangue quente!

-Isso não quer dizer nada. E a Yelena Isinbayeva? É russa, mas ainda está pra nascer mulher mais quente do que aquela.

-Bem lembrado: além de linda, é atleta. Já viu o abdômen dela? Uma perdição. Nunca achei salto com vara tão divertido.

-É bela, mas forte demais. Cadê a delicadeza feminina?

-E a Maria Sharapova, a tenista?

-Viva a Rússia!

-Pois é: mas país por país, sou mais o Brasil.

-É... As brasileiras são as melhores, indiscutivelmente.

-Concordo. Taí a Gisele Bundchen para provar.

-A Gisele é clichê. E na minha opinião não chega aos pés de uma Alessandra Ambrósio.

-É verdade. Se um dia ela me encontra na rua e me manda um sorriso, eu me aposentava.

-Se o assunto são modelos, eu ainda prefiro a Adriana Lima. Quase perfeita.

-É justo, é justo.

-E a Alice Braga?

-Divina. Beleza simples, mas marcante. É a simpatia em pessoa.

-Pois é. Mas brasileira boa mesmo é Juliana Paes.

-Ô se é. Muitos caminhões de areia já arriaram por ela...

-Preferência nacional.

-Falta charme nela, sei lá.

-Você e o charme. Nunca vi ninguém tão fixado nisso.

-Mas é algo importante. Eu acho.

-Ah é? E quem é sua musa, afinal de contas?

-A mamãe.

O silêncio que seguiu a afirmação do Gonzaga foi tomado como absoluta precaução. Ninguém sabia se o rapaz, notório por seus gostos peculiares, falava sério ou tinha feito uma anedota com a situação. Sendo assim, por via das dúvidas, todos seguraram pacientemente a gargalhada.

-A mamãe sim. Bonita. Charmosa. Beleza na medida certa.

Mesmo constatando que o Gonzaga falava sério, o pessoal até pensou em gargalhar com a situação. No entanto, de súbito, todos tiraram quase simultaneamente a mesma conclusão: no fundo, ele até tinha razão. Afinal de contas, mãe é mãe.

Chamaram o garçom, pediram outra rodada, e mudaram de assunto.