quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Laranja

Presenciei o diálogo dias desses:

Caminhavam por uma das ruas do centro de Curitiba no fim de tarde, sem pressa, apreciando a paisagem, como duas turistas da própria cidade. Uma delas olhou durante algum tempo para o ponto de taxi ao lado da praça e comentou com um tom de inconformismo:

-Taxi laranja.

-Laranja! – Enfatizou a companheira de caminhada, como se tivesse percebido a mesma coisa, e compartilhasse de uma indignação semelhante.

-Onde já se viu?

-Só aqui.

-Tem tanta cor interessante por aí, e escolhem laranja. Laranja!

-Laranja não dá!

-Tudo menos laranja!

-Coisa cafona.

-Extremamente cafona.

-Bom mesmo é em Nova Iorque.

-Nova Iorque! – Repetiu a colega de caminhada, com entusiasmo.

-Taxi, lá, é amarelo.

-Amarelo é outra coisa.

-Muda tudo. Dá outra vida, outra cara.

-Seria outra cidade.

-Outra!

-So-fis-ti-ca-ção! Anos luz à frente!

-E nós de laranja. Pode?

-Lá é primeiro mundo, né amiga? Não dá pra competir.

-O dia que os taxis daqui forem amarelos... Vou te dizer, hein? A história será outra!

-Outro nível.

-Mas laranja...

-Laranja não dá!

-Não dá!

E seguiram seu caminho certas de que, com uma consultoria visual mais caprichada, até Curitiba tinha salvação.

O problema, quem diria, é o laranja.