
Para facilitar o entendimento do diálogo, vamos diferenciar os sujeitos como “Fulano” e “Beltrano”, muito embora, na prática, eles possam ser substituídos por qualquer ser humano dito comum, tal como eu ou você.
-Eu discordo da sua opinião. – Diz o Fulano, exaltado.
-Sério? Bem... É um direito seu. – Responde, calmamente, o Beltrano.
-Você está errado.
-Respeito seu ponto de vista.
-Você não devia pensar desta maneira. É errado.
-Isso você já disse.
-Então mude de opinião.
-Não dá. Não posso ir contra o que eu acredito. Mas posso debater o assunto, e, se for convencido por meio de bons argumentos, posso mudar de opinião. Nada me impede.
-Mas você está errado. Tem que mudar.
-Não necessariamente. Podemos viver tendo pontos de vista diferentes, não há problema.
-Claro que tem problema.
-E qual é o problema?
-O problema é que você está errado.
-Por quê?
-Porque está, ué.
-Sim, mas quais são seus argumentos para afirmar isso?
-Não preciso de argumentos. O que é certo é certo.
-Mas quem disse que você está certo?
-Todos dizem que eu estou certo.
-Não é bem assim. Há muita gente por aí que concorda comigo.
-Mas eles não contam.
-Por que não?
-Porque eles estão errados.
-Ora... Isso é ridículo.
-É claro que não é.
-Cara, vem cá... Eu não estou pedindo pra você mudar de opinião. Sério. Acho válido e saudável existirem pessoas por aí que tenham pontos de vista diferentes, independentemente do assunto. O debate, o confronto crítico e racional de ideias, é um processo saudável. Eu não preciso concordar com você, e nem você concordar comigo para que possamos viver em harmonia, respeitando um ao outro. Entende o que eu quero dizer?
-Creio que entendo, sim.
-E o que acha disso?
-Acho que você está errado, e que deve mudar de opinião.
-Ok, eu desisto.
-Previsível.
-Previsível? Por quê?
-Quem não tem argumentos, foge. Simples.
Triunfante, o “Fulano” deixa o “Beltrano” sozinho, enquanto ele aparentemente tenta entender ao certo a situação que acabou de presenciar, ou pegar qualquer objeto mais próximo para atirar na cabeça do infeliz a fim de amenizar sua raiva. O que for mais fácil.
O “Fulano” ainda desabafa em voz alta:
-E depois dizem que não entendem o porquê do mundo estar do jeito que está. Falta diálogo, gente. Será que ninguém percebe?