Presenciei o diálogo dias desses:
Caminhavam por uma das ruas do centro de Curitiba no fim de tarde, sem pressa, apreciando a paisagem, como duas turistas da própria cidade. Uma delas olhou durante algum tempo para o ponto de taxi ao lado da praça e comentou com um tom de inconformismo:
-Taxi laranja.
-Laranja! – Enfatizou a companheira de caminhada, como se tivesse percebido a mesma coisa, e compartilhasse de uma indignação semelhante.
-Onde já se viu?
-Só aqui.
-Tem tanta cor interessante por aí, e escolhem laranja. Laranja!
-Laranja não dá!
-Tudo menos laranja!
-Coisa cafona.
-Extremamente cafona.
-Bom mesmo é em Nova Iorque.
-Nova Iorque! – Repetiu a colega de caminhada, com entusiasmo.
-Taxi, lá, é amarelo.
-Amarelo é outra coisa.
-Muda tudo. Dá outra vida, outra cara.
-Seria outra cidade.
-Outra!
-So-fis-ti-ca-ção! Anos luz à frente!
-E nós de laranja. Pode?
-Lá é primeiro mundo, né amiga? Não dá pra competir.
-O dia que os taxis daqui forem amarelos... Vou te dizer, hein? A história será outra!
-Outro nível.
-Mas laranja...
-Laranja não dá!
-Não dá!
E seguiram seu caminho certas de que, com uma consultoria visual mais caprichada, até Curitiba tinha salvação.
O problema, quem diria, é o laranja.