sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ídolo

Foi numa dessas festinhas infantis de um primo que a gente nunca sabe bem explicar de que lado da família pertence, repleta de crianças que você não faz a mínima ideia de onde são. Uma das jovens convidadas, do alto de seus sete ou oito anos, ouviu alguém comentado que o sujeito grandalhão que mastigava meia dúzia de salgadinhos ao lado da mesa – no caso, eu – era jornalista. Se aproximou, e puxou papo.

-Oi. – Disse sorridente.

-Olá. Tudo bem, moça?

-Uhum... É verdade que você é jornalista? – Questionou ela, com a mais fascinada das expressões.

Simulando uma modéstia que não condizia com meu estado de espírito no momento, afinal de contas nunca antes alguém tinha mostrado algum tipo de surpresa ou interesse com minha formação acadêmica, respondi com um ar quase heroico: “Sim, eu sou jornalista”. Ela sorriu satisfeita com a resposta, e juro que pude ver um brilho de legítima admiração em seus olhinhos curiosos.

-Poxa, que legal! É o primeiro jornalista que conheço.

-Você quer ser jornalista também?

-Sim, é o meu sonho.

-Pois tenho certeza que um dia você irá ser uma, se assim quiser. Com esforço e dedicação, você chega lá. – Disse eu, num tom solene, quase dramático, para a atenta menina.

-E em qual canal você aparece?

-Canal?

-De televisão. Em qual deles você trabalha?

-Bem, na verdade eu não trabalho na TV. Sou jornalista de jornal impresso, mas também faço matérias pra Internet...

-Então você não aparece na TV?

-Não.

-Ah, poxa vida... – Suspirou, decepcionadíssima, antes de se despedir sem nenhuma formalidade e voltar ao encontro do resto dos colegas de sua idade, me deixando ali, sozinho, na companhia de coxinhas e empadinhas.

Ela não disse mais nenhuma palavra, mas tenho certeza que, enquanto ia se afastando do tal rapaz jornalista, pensou “Era bom demais pra ser verdade”.